DONAS DE BEM
Havia uma Dona que habitava num palácio, rodeado por altas muralhas… no interior desse palácio, viviam os filhos dessa Dona, e os enteados também! Filhas, nem vê-las… pois a Dona não gostava de meninas, e dava ordem aos mordomos para que as eliminassem á nascença, junto com os gatos! A Dona, já envelhecida e desgastada pelo tempo e pela idade, não permitia que os seus filhos e os seus enteados partissem para uma vida própria. Era portanto, uma Dona muito possessiva… O palácio onde esta gente habitava, encontrava-se em constante desarrumação, um autêntico caos! Por sua vez, os filhos e os enteados da Dona, todos maiores de idade, tentavam por vários meios, entre os quais, chamando a atenção de outras Donas do Mundo para o facto de quererem voar mais alto com as suas próprias asas e por sua autonomia… e não poderem! Mas a Dona tinha os mordomos do palácio, que lhe eram obedientes e fiéis e não deixavam que os piquênos passassem da praça do palácio para o seu exterior. As outras Donas do mundo, fingiam não reparar nas desarrumações e birrinhas dos súbditos da Bruxa Velha. Até que chegou o dia em que todas as Donas do mundo resolveram visitar a Dona amuralhada!
Aí, a Velha dona correu, dando ordem aos mordomos para que limpassem o palácio, e os jardins de uma ponta á outra, e estes, cumpridores, varreram as misérias para debaixo dos tapetes, esconderam atrás dos armários os pedintes que frequentavam e conspurcavam as muralhas, retiraram os fumos dos jardins, eliminaram a confusão das ruas, e a dona de bem, noutra corrida, escondeu as rugas, as olheiras e as peles de galinha… maquilhou-se, espartilhou-se, envergou novo vestido, deu ordem aos mordomos para ocultassem os enteados nas arrecadações do fundo do palácio, amordaçá-los se chiassem! Mandou construir um palácio enorme em forma de ninho, para isso destruindo as habitações e ocupando os terrenos dos comerciantes e dos camponeses, apontou mísseis para os Céus, desafiando as nuvens chuvosas e as trovoadas…E a dona de bem gastou biliões para preparar a festa!
Quando as convidadas chegaram, ela distribuiu beijinhos por toda a gente, o banquete foi faustoso, a recepção foi deslumbrante… mesmo extasiante… fazendo esquecer a miséria que estava a ser pisada, escondida debaixo dos tapetes! A Velha dona até pôs uma menina muito pequenina e muito bonitinha a fingir que cantava, com a voz melodiosa de outra menina, naturalmente um patinho feio, por sinal…sorte a destas duas meninas…que não lhe aconteceu como aos lindos gatinhos…e pôs um homem a voar com um archote numa das mãos! Entretanto, as restantes Donas de bem, prosseguiam embasbacadas com tanto esplendor, ilusionismo, tecnologia, pirotecnia, efeitos especiais e espaciais… enganadores… que abafavam os gritos de revolta dos enteados fechados lá nos fundos das arrecadações. Durante a festa, os irrequietos súbditos de outras Donas, tentavam chamar a atenção do Mundo para o facto de nem todos partilharem dessa inebriante festa! Mas a festa era protocolar, daí que ficava deselegante uma destas Donas, feitas de convidadas, alinhar em tais desaforos! E o Mundo assistiu feliz! Pela televisão, pelos jornais, pela internet!
E o Mundo assistiu feliz ??? Como assim ???
E depois de a festa terminar… voltarão os pedintes para as ruas, voltará o caos no trânsito, voltarão as poluições, voltarão as repressões, voltarão as mordaças, voltará o controlo da natalidade feminina, voltará a fome, não… mais fome ainda… porque serão os mesmos… sempre os mesmos que irão pagar os despesismos de, e para, meia dúzia de Donas de bem!
Ou que esta seja a oportunidade para a velha dona abrir definitivamente as portas do palácio ao Mundo e deixar os filhos voarem livremente pelo horizonte longínquo, escolhendo o seu destino, livres de mordaças e de muralhas!
A VER VAMOS…