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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os seus objectivos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, adormecidas... ou anestesiadas por fórmulas e conceitos preconcebidos. Embora parte dos seus artigos possam "condimenta-se" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade com libertinagem de expressão" no principio de que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros".(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico e por vezes corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausadamente, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas análises, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell).Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de blogues a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, o que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão com alguma delas... mas somente o enriquecimento com a sua abertura e análise às diferenciadas ideias e opiniões, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais e válidos para todos nós, dando especial atenção aos "nossos" blogues autóctones. Uma acutilância daqui, uma ironia dali e uma dica do além... Ligue o som e passe por bons e espirituosos momentos...

sábado, 6 de setembro de 2008

DITAS DURAS



DITAS DURAS

Numa sala pintada de branco, despida de qualquer adereço, foi colocada uma mesa quadrada, em pinho crú, e no centro desta, um copo meio de água. Junto á mesa, posicionou-se um banco, também espartano, da mesma madeira, onde, á vez, se sentaram dois homens. 
O primeiro ficou durante cinco minutos a olhar para o copo meio de água, isolado na sala… de seguida executou-se o mesmo com o segundo homem… foi-lhes pedido, á posteriori, que cada um deles, também isoladamente, descrevesse o que tinha visto… O primeiro homem disse ter visto um copo meio vazio de água… enquanto que o segundo homem disse ter visualizado um copo meio cheio de água… e o copo era o mesmo… e a quantidade de água…também igual… De seguida, informaram-se os dois homens, ainda separados um do outro, que durante doze horas nada beberiam e só decorrido esse tempo é que desfrutariam apenas da água … que tinham no copo! O primeiro, ao alcançar o copo, ingeriu a água toda de um só trago! Enquanto que o segundo homem, ingeriu apenas metade da água existente no copo! E porquê? Porque, para cada um deles, a mesma situação tinha uma representação diferente!



O tempo das ditaduras terminou? A ditadura do Estado totalitário, sim! Embora ainda haja quem pretenda afirmar as suas, tentando manipular a opinião pública de acordo com um ponto de vista mais ou menos utópico, evidenciando as situações negativas e omitindo as positivas, estratégia contemporâneamente bastante utilizada pela comunicação social com o intuito de vender eficazmente o seu produto ou seja, a informação.
Mas existem as outras ditaduras… a ditadura das modas e a ditadura das marcas! Formam-se tribos em volta de uma marca de roupa! E cria-se divisionismo entre essas tribos, pura e simplesmente porque vestem marcas diferentes…marcas de marca… e marcas das marcas de marca…compradas dez vezes mais inflacionadas do que as suas congéneres que são só de marca… ao ponto de formarem os seus grupos como “os Betinhos”, “os Nikes”, “os Adidas”…”os Rastafaris”,”os Dreeds”, “os Góticos”, etc… Vestes que se rejeitam, depois de passada a época daquele corte ou daquele padrão! Há lugares e bares frequentados e seleccionados por estas tribos! Dá-se importância ás noites, em detrimento do dia! Chama-se a isto, segregação e divisionismo! O que não é saudável em qualquer sociedade…Observarão que será próprio do crescimento do ser humano… da idade do armário…será uma fase da adolescência… muito bem… agora vamos crescendo… e vejamos… a ditadura continua…Investe-se na marca e no modelo do automóvel, uma lata de preferência melhor do que a do vizinho, mas sem piscas nem travões… onde se satisfaz o ego… mete-se a família dentro e fazem-se competições…e serve para se vencerem batalhas em vez de se vencerem distancias… porque o meu tem mais cavalos do que o teu… mas por vezes perdem-se essas batalhas…e volta a investir-se… no modelo mais á frente porque o outro já está ultrapassado! Investe-se na marca e no modelo do telemóvel, que toca invariavelmente no restaurante, a meio da refeição… e se atende com garbo… e uma certa ostentação!
-Ttralará lará trá tá… tchim pum!” Canta o telemóvel.
“-Tou… cinho?!”
E os admirados e os invejosos, contemplam o aparelho…não dos dentes… mas o telemóvel, poças! Aliás o telemóvel é o único apêndice que o homem cobiça possuir do tamanho mais pequeno! E volta-se a investir… sem necessidade, num modelo ainda mais pequeno e avançado! Investe-se na dimensão da habitação… multi-chaminés…. Com janelas tipo fenêtres… e jardim para se esticar… Investe-se na sofisticação das férias, por quinze dias…
“-Onde vais passar as férias? …”
A Cancún, á Polinésia, ás Caraíbas ou ao Brásil…ao Afeganistão?! Isso é que não!
”- Oh! Que sítio tão chic! E foi carooo?!”


Percorrem-se centenas de quilómetros ao fim de semana para nos embrenharmos nos Templos…de consumo! E nos hipermercados procuram-se os produtos de marca… aqueles da publicidade na televisão… mas isto durante as primeiras semanas do mês… Porque nesta sociedade de consumo mais vale parecê-lo… quando não se consegue sê-lo! E cobiça-se! Cobiça-se tudo! E não se resiste ao impulso! Depois segue-se o sintético e o artificial! Investe-se nas faces recauchutadas, nos seios insuflados e…nos cartões de plástico! De crédito, de débito, oferecidos de mão beijada! O dinheiro de plástico… Esse dinheiro fácil de alcançar! Ao pé dos electrodomésticos, nos stands, nas agências…tropeçamos nele! Há crédito para isto e crédito para aquilo! E parece oferecido… mas será bem vendido…esse vil metal! E quem não tem dinheiro não tem vícios, mas quem dinheiro tem… vícios arranja! Olha-se para o próprio umbigo…Satisfaz-se o ser, valoriza-se o materialismo, vive-se para o presente e para o momento…, não se olha o futuro… não se fazem contas…Responde-se automaticamente aos impulsos consumistas…
“- Olha, levamos o LCD! Ou o plasma?!
Já está ultrapassado!!! E é tão fácil levá-los para casa! E fica-se investido! E as tribos continuam… agora as do futebol, a tribo do Benfica, a tribo do Sporting, a tribo do Porto e outras tantas tribos…e vem a mobilização nacional! E fazem-se pinturas de guerra! Erguem-se bandeiras, cantam-se Hinos, pára o País, encharcam-se os fígados com cerveja e degladiam-se as pessoas! Desporto de massas… entretenimento para o povo! Vem a política! Discutem-se pensamentos, impõem-se ideias, erguem-se bandeiras, oferecem-se brindes, fazem-se promessas, Ilude-se o povo… bebem-se copos de vinho… e …degladiam-se as pessoas e no final da competição…ora bolas, são todos iguais! Chega-se ao fim do dia. Entra-se em casa… aguarda-se pelo jantar…ralha-se com as crianças e…discute-se com a Mulher…dá-se porrada… se preciso for… Porque a Mulher se quer submissa…e sem opinião…Deita-se e ressona-se…ressona-se alto…enquanto a Mulher…ouve…e chora… chora em silêncio… sim porque é próprio das Mulheres…
Chorarem…
Em silêncio!
E das Mães…
Chorarem em silêncio!
- Filha!!! Mas o que foi que te aconteceu?!”
“-Caí do escadote… enquanto limpava o tecto…”
E você?
Sim, você que está a ler… já ouviu isto em qualquer lado?!... Ou num lado qualquer?


Só nos primeiros oito meses deste ano perderam a vida, trinta e cinco mulheres, vítimas de carícias domésticas!



Chega-se o fim do mês, dos meses... dos anos…E vêm outras ditaduras, outras repressões… as ditaduras dos créditos de mão beijada! Os tais de mil sorrisos e duas mil facilidades… que agora cobram os juros…altos… e os juros dos juros…altos… e os juros dos juros dos juros…altos! E tudo porque…”os olhos foram maiores do que a barriga!” E esses, as vitimas destas ditaduras, passam a servos dos bancos e a escravos do consumo! Desfazem-se dos lares, desfazem-se dos carros, desfazem-se das esposas, desfazem-se dos filhos, desfazem-se das famílias… desfazem-se as famílias… e, enquanto alguns… ficam com as vidas desfeitas… outros se desfazem das próprias vidas! Uns entram em becos sem saída… outros desesperam…e procuram saídas diferentes… e a violência sai para a rua!
Porque vivemos numa sociedade materialista e ditada de consumismos!