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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os seus objectivos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, adormecidas... ou anestesiadas por fórmulas e conceitos preconcebidos. Embora parte dos seus artigos possam "condimenta-se" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade com libertinagem de expressão" no principio de que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros".(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico e por vezes corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausadamente, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas análises, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell).Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de blogues a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, o que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão com alguma delas... mas somente o enriquecimento com a sua abertura e análise às diferenciadas ideias e opiniões, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais e válidos para todos nós, dando especial atenção aos "nossos" blogues autóctones. Uma acutilância daqui, uma ironia dali e uma dica do além... Ligue o som e passe por bons e espirituosos momentos...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

OS BARULHOS DO SILÊNCIO III




OS BARULHOS DO SILÊNCIO III
Terceiro capítulo – No Oriente

Noite estrelada…ninguém por perto? O Cidadão caminhava pela terceira vez nas ruas da Vila Poema, descendo a marginal calcetada … o marulhar das águas do Zêzere ao encontro com as do Tejo… ouvia-se o latir de um cão, bem ao longe… á esquerda, junto ao parque de estacionamento, um casalinho descarregava a sua paixão sobre um banco do jardim com base em ripas de madeira pregadas a uma estrutura em ferro forjado e rendilhado, por debaixo de um enorme plátano cujas pernadas pendiam suavemente… sobre o amor… antes assim, do que andarem á estalada! “Make Love not War”…, nestas ocasiões surgem umas cuscas inoportunas tecendo comentários do género: “-mas que pouca-vergonha”, ao que o Cidadão returque: ”- Será que a dona, quando nova, não terá feito coisas idênticas… ou melhores? Inveja…ou falta de matéria-prima?” e por lá ficaram os passarinhos contribuindo para a taxa de natalidade, vivendo os seus lindos e verdes anos, na paz do Senhor, enquanto o Cidadão se aproximava do Latas… por detrás do fulano… um pouco mais adiante, junto à calçada inflectida para a esquerda, a cerca de cinquenta metros, outro casalinho enroscava-se sobre um bloco de granito, junto das pernadas de uma pequena laranjeira carregada de frutos, frente ao portão em ferro, ladeado de um muro branco, limitando o Jardim Horto Camoniano… sentou-se junto deste, sobre a almofada de napa que trouxera debaixo do braço…naquela noite soprava uma aragem fresca e húmida…
-Olá rapaz!
-Então, mais dois dedos de conversa… não é verdade?
-Pois, Camões, foi como prometi!
-Hoje vieste tarde… o relógio da igreja já bateu uma hora…
-Ah! É Domingo… estive numa jantarada… ainda fui deixar a Companheira e o Júnior em casa… e zarpei para aqui!
-Ela… não acha estranhas… estas tuas saídas?
-Acha pois! Diz que devo estar com o Alzheimer!!! Sabes Camões… hoje temos companhia… já viste ali atrás?
-Não! Não sabes que não consigo olhar??
-Desculpa… foi sem intenção… mas é estranho… nesta época do ano… estamos no Outono… sabes…
-Pois, mas já ouviste falar no aquecimento global?
-Também é verdade… por isso, é que hoje em dia não se distinguem as estações do ano…
-E os casais ficam baralhados… o relógio biológico anda confuso…
-Desperta-lhes a libido fora da época…
-Pensam estar na Primavera!
-Ah! Agora já entendi porque houve um aumento da população de Ursos Polares… antes eram cinco mil… agora são vinte e cinco mil!!!
-Então?
-Estás a ver… com o aquecimento global, julgam estar sempre em época de acasalamento!
-Lá no Árctico as ursas andam encaloradas… suadas… e mais expostas!
- Depois… pumba!
-É sempre a aviar!!!
-São como os pinguins… na Antártida… os tipos sempre aprumados
-De fraque…
-E bico empinado…
-Vai-se a ver… e são uns ganda malucos! Eh! Eh! Eh!
-Parece… que lá nos Pólos não fazem planeamento familiar!
-Nem há tripas de porco! Eh! Eh! Eh! Mas… existe assim… tanto Urso?!
-Dizem que sim…
- Bom, bom… íamos em que parte da minha vida?
-Tinhas chegado ao Oriente… a Calecute… ainda te lembras?
-Ah! Pois! Mas… antes de continuar… o que é isso do Alzheimer?
-É aquilo que ainda te falta… para me poderes contar assim a tua vida… tintim por tintim!
-Ora bem… quando cheguei a Calecute, tive uma grande decepção! Aquilo eram gentes esquisitas! Vestiam roupas esquisitas, comiam coisas estranhas, tinham uma pinta vermelha na testa, os homens vestiam túnicas e usavam toucas brancas, azuis ou laranja… professavam uma religião diferente! Adoravam as vacas… Vê lá tu! Eram Hindus!!! Vilões desonestos e gente ruim haviam por lá aos magotes!
Além do Indo jaz, e aquém do Gange,
Um terreno muito grande e assaz famoso,
Que pela parte Austral o mar abrange,
E para o Norte o Emódio cavernoso.
Jugo de Reis diversos o constrange
A várias leis: alguns o vicioso
Mahoma, alguns os ídolos adoram,
Alguns os animais, que entre eles morri.
Lá bem no grande monte, que cortando
Tão larga terra, toda Ásia discorre,
Que nomes tão diversos vai tomando,
Segundo as regiões por onde corre,
As fontes saem, donde vêm manando
Os rios, cuja grã corrente morre
No mar Índico, e cercam todo o peso
Do terreno, fazendo-o Quersoneso.
Entro um e outro rio, em grande espaço,
Sai da larga terra uma loira ponta
Quase piramidal, que no regaço
Do mar com Ceilão ínsula confronta;
E junto donde nasce o largo braço
Gangético, o rumor antigo conta
Que os vizinhos, da terra moradores,
Do cheiro se mantêm das finas flores
Mas agora de nomes e de usança
Novos e vários são os habitantes:
Os Delis, os Patanes, que em possança
De terra e gente, são mais abundantes;
Decanis, Oriás, que a esperança
Têm de sua salvação nas ressonantes
Águas do Gange, e a terra de Bengala
Fértil de sorte que outra não lhe iguala.
O Reino de Cambaia belicoso
(Dizem que foi de Poro, Rei potente)
O Reino de Narsinga, poderoso
Mais de ouro e pedras que de forte gente.
Aqui se enxerga lá do mar undoso
Um monte alto, que corre longamente,
Servindo ao Malabar de forte muro,
Com que do Canará vive seguro.
Da terra os naturais lhe chamam Gate,
Do pé do qual pequena quantidade
Se estende uma fralda estreita, que combate
Do mar a natural ferocidade.
Aqui de outras cidades, sem debate,
Calecu tem a ilustre dignidade
De cabeça de Império rica e bela:
Samorim se intitula o senhor dela.
-Fartei-me daquele ambiente… e dentro das imposições da vida militar, em finais de 1553 iniciaram-se os preparativos para uma campanha, sob as ordens do Vice-Rei D. Afonso de Noronha, com o objectivo de combater os comerciantes mafiosos, como o Rei da Pimenta, também conhecido pelo “Rei de Chemba,” na costa do Malabar… nesses portos só se podia acostar em duas épocas do ano devido às intempéries nos mares… e por causa das correntes marítimas muito fortes, vindas do golfo… no monção pequeno, por alturas de Maio e só depois no monção grande… entre os meses de Agosto e Setembro… soltámos amarras em Fevereiro de1554, e, sob o comando de D. Fernando de Meneses atacávamos as naus Mouras, que navegavam entre os mares das Índias e do Egipto, praticando comércio ilegal e prejudicando o monopólio dos Portugueses, embora tais acções não fossem do meu agrado… andámos por lá nove meses… só regressámos a Goa em Novembro desse ano!
-Já era a ASAE da época…
-O que é isso?
-Não interessa para agora, vá, continua…
Entretanto fui mobilizado para combater os piratas dos mares da China, numa nau disfarçada de navio mercante, para os armadilhar, atrair e surpreender! Rumámos a Malaca, onde os Portugueses dominavam no Extremo Oriente… Como tinha o vício da aventura e a adrenalina á flor da pele, candidatei-me a combater os piratas na Malásia! Sumatra, Java, Ternate, Tidore, Bornéu, e cheguei mesmo às longínquas Ilhas de Banda, Sonda e Timor!
-Não me digas que combateste o Tigre da Malásia!
-Quem foi esse tipo?
-O Sandokan!
-Não! Esse veio muito tempo depois! Entre 1803 e 1868! O seu melhor amigo era Português!
-Pois… o Eanes!
- E Lord Brooke… o seu inimigo figadal! Mas isso foi assunto com os Ingleses e os Italianos!
-Andaste nessa vida durante muito tempo?
-Até 1556! Para aí um anito e meio…
-E depois?
-Estava farto daquela vida de pelejas pelos mares, a combater tudo o que era pirateio, quando regressei a Goa onde tentei repousar, embora fosse uma cidade bastante movimentada… escrevi e representei a obra “FILODEMO”… era assim… a vida na capital das Índias… empréstimos, fintas… um credor zangou-se comigo, queixou-se às autoridades e fui parar novamente com os costados à prisa… ver o Sol aos quadradinhos. Entretanto, lá fiz mais uns versos humorísticos…

-Hummm… que idade tinhas por essa altura?
- Trinta e três anos… como o Cristo!
-Idade para teres juízo…
-Já te disse… se vens aqui para me criticares… podes pôr-te na alheta!
-Prontos, não nos zanguemos, sejamos bons amigos que a vida são dois dias…
-E o Carnaval… são três!!! Evoquei os bons ofícios do Vice – Rei da Índia, Conde do Redondo… e em 1562 o Vice-Rei concedeu-me liberdade e protecção… com o meu bichinho da pena, resolvi escrever odes, peças de teatro, e outros poemas ao peixe graúdo para cair em boas graças e ganhar uns trocos. Como a malta não sabia ler nem escrever, eu rabiscava uns versos e autos, por encomenda de um senhor todo-poderoso que depois os entregava á amada, dizendo que eram de sua autoria!
-O aldrabão!
- Mas não me deixavam sossegado… os soldados também me cravavam para lhes escrever cartas dirigidas aos seus familiares aqui em Portugal… entretanto, como tinha assim… uma grande pancada… resolvi organizar um banquete, convidar a burguesia da época e apresentar uma mesa sem iguarias e um vinho fraco, como forma de protesto pela vida desgraçada que levava! O pessoal que se aprumou, todo faustoso, ficou lixado comigo! Depois, para gáudio meu, compus e recitei estes versos:
"Heliogábalo zombava das pessoas convidadas,
E de sorte as enganava,
Que as iguarias que dava
Vinham nos pratos pintadas.
Não temais tal travessura,
Pois já não pode ser nova;
Que a ceia está segura
De não vos vir em pintura,
Mas há de vir toda em trova."

-E ias ganhando uns trocos… viveste assim por muito tempo?
-Depois destas aventuras, regressei a Macau onde finalmente me atribuíram um cargo importante… provedor – mor… fui encarregue de arrolar e administrar os bens dos Portugueses falecidos naquelas paragens, onde descobri uma gruta! Um óptimo refúgio para estar sossegado, reflectir… e aí sim, resolvi escrever a obra que me imortalizou…“OS LUSIADAS”! Fartei-me de escrever! Descrevi a viagem épica do Vasco da Gama, o Adamastor, todas as peripécias que me lembrava e outras tantas que tinha ouvido contar dos velhos marinheiros! No caminho para essa gruta também encontrei a paixão da minha vida… a Dinamene… uma linda Chinesinha! Os meus compatriotas começaram por desconfiar da minha honestidade e acusaram-me de ficar com os dinheiros dos mortos e desaparecidos que arrolava! Fui a Goa, responder em tribunal! No regresso a Macau, a nau onde viajava com a minha Companheira afundou-se ali… perto do delta do rio Mecong, na costa do Cambodja!
-Que á posteriori se passou a designar por Saigão, a dôr de cabeça dos Americanos nos anos sessenta… e agora se chama Hô-Chi-Minh, no Vietname do Sul!
-Irra! Não me interrompas! És um melga do caraças! Está um tipo a contar a vida e tu, sempre a meteres a colher! Depois perco o fio á meada! Chato, pá!!
-Está bem… não te zangues… que no fim limpo-te esses verdetes!
-Não! Deixa estar os verdetes que me ficam bem… assim!!!
-Continua, vá!
- Como trazia os escritos dos Lusíadas comigo, saltei do barco com os escritos dentro da camisa, para não ser engolido pelo remoinho do afundamento, olha… foi uma grande aflição para os salvar… e a mim também! Nadei até mais não! Depois de umas horas de luta com o mar revolto, consegui alcançar terra… em estado febril… ainda verifiquei se tinha os manuscritos comigo… passou-me tudo pela ideia… a infância… as paixões aqui em Punhete, os conflitos nos mares do Oriente… desmaiei! Sabes… quando voltei a acordar... lembrei-me da minha paixão! Da minha grande paixão… a minha maravilhosa Dinamene! “Aquela cativa que me tem cativo” pelo resto da minha existência…

Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no céu eternamente,
e viva eu cá na Terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de maus olhos te levou…
-Não Grites Camões… olha ali os namorados… que os assustas…estragas-lhe os bons momentos!
-Deixou-me… partiu… naquele maldito naufrágio… tinha viajado comigo… e não sobreviveu… naquele horrível naufrágio! A minha querida Chinesinha… a minha Companheira… era assim uma paixão como a tua! Huum, huum! Mas olha… acredito que ela foi parar á cidade perdida da Atlântida, no fundo dos mares… depois disso, voltou a visitar-me algumas vezes!
-Pronto Camões… agora não se fala nisso! A seguir... o que te aconteceu?
-Uns Monges Budistas recolheram-me no seu convento… onde me esqueci do Mundo!
-…Ficaste por lá muito tempo?
-Olha… nem sei! Estava semiconsciente… até que um dia… uma nau Portuguesa me levou de volta para Goa! A minha vida não teve mais sentido… mas guardei a minha obra… sempre junto ao coração!
-Ora bem… regressando á viagem de Vasco da Gama… cá o Cidadão ainda não entendeu uma coisa… O Gama fez-se aos mares… transpõe o Cabo das Tormentas e seguiu pela costa Oriental de África, rumando a Norte… como se não fosse a primeira vez… para essas aventuras será necessária experiência e muitos conhecimentos prévios do terreno! Não concordas?
-Ah! Já sei onde queres chegar! È assim… uns anos antes, para aí em 1486, outros navegadores Portugueses com uma flotilha de três naus bem equipadas, exploravam a costa ocidental de África…sob pretexto de encontrarem Preste João, desaparecido uns tempos antes… decorrido um ano, em finais de Agosto de 1487, e levando consigo quatro nativas e dois nativos Africanos… bem vestidos e nutridos, anteriormente capturados por Diogo Cão, para exibirem aos povos Africanos, iludindo-os, que se vivia bem em Portugal, recrutando escravos e, simultaneamente, tentarem localizar o Preste.

-Hummm… o mesmo acontece hoje em dia com o futebol… as equipas de âmbito nacional apresentam meia dúzia de jogadores auferindo de remunerações ofensivas, bem vestidos, nutridos e montados… iludindo centenas de jovens, que correm atrás da ilusão da galinha dos ovos de ouro… esperançados em alcançar semelhantes benesses… enquanto uns eufóricos e stressados milhões de contribuintes aplaudem a partir das bancadas… dos cafés… em casa… e os políticos aproveitam estas épocas altas dos campeonatos para tomarem decisões menos populares, enquanto o povo anda entretido…com o desporto mobilizador de massas... indutor de comportamentos tribais mais elementares, paralisando o País, em benefício de alguns senhores! Resta oportunamente, termos reparado nas reportagens em directo a partir da Suiça, durante o horário laboral, em que os repórteres de rua se saíam frustrados pelo insucesso das entrevistas, em que os visados, respondiam simplesmente: ”- Estou a trabalhar… agora não posso perder tempo a responder a essas questões ” !!!
-Oh! Oh! Deixa-te de paleio, que isso já me cheira a politiquice!
-Vá… desabafa!
- Tu é que estás a desabafar… bolas!!! Mas adiante! As três naus de exploração zarparam do Restelo, para mais esta expedição no Atlântico, em direcção a Sul… a São Cristóvão capitaneada por Bartolomeu Dias... a Panteão, comandada pelo João Infante e a terceira… era uma naveta com mantimentos, capitaneada pelo Diogo Dias… irmão do Bartolomeu… numa política de expansão marítima e alargamento do Império e da Fé Cristã, navegaram por essas costas de África abaixo, …escalando as Ilhas da Madeira, Canárias, Cabo Verde, Guiné, Costa da Pimenta, Costa do Marfim, Costa do Ouro, Costa dos Escravos, Ilhas de São Tomé, Cabinda, Angola… levavam prendas para cativar os Reis Africanos dessas paragens… e até mulheres!
-Mulheres?!
-Pois… mulheres Portuguesas, rapariguitas na flor da idade, todas apetitosas, bonitinhas e embelezadas que eram deixadas por lá, entregues àquelas gentes! Uma tristeza…
-Constituíam família?
-… Nessa época, as raparigas das aldeias, as mais pobres, do povo, que não tinham saída na vida, eram recrutadas á força e levadas ao engano para África e para a América onde as ofereciam aos Reis e senhores feudais nativos, para lhes agradarem… e as forçavam a “amar” e casar com quem não queriam, indivíduos asquerosos e selvagens…e mesmo com colonos idos de outras paragens! Também por lá ficavam nobres, homens rudes com o intuito de marcar território e povoarem as regiões… impondo o domínio Português… seguiam – se os missionários para expandirem a Fé Cristã, os Jesuítas… que mais tarde, nas terras de Vera Cruz se revoltaram contra o Reino e seus algozes, por assistirem a tanta tirania, injustiças e escravatura causadas pelos colonos Europeus! Decorridos uns anos, em Angola, na região da Matamba, surgiu Nzinga, Rainha amazona… também apelidada de Ginga, da tribo Quilombola, com quartel-general nos Montes Quilombos, que iniciou a revolta contra tais prepotências… protegendo o seu povo que, depois de capturado tinha a escravatura como destino certo! Muito bela, culta, inteligente e astuta!

-Se calhar, essa contestação dos Jesuítas foi a origem do movimento cristão a “Teologia da Libertação”…
- Nessa viagem ao chegar ao limite Sul da Costa Africana, os navegadores rumaram para Sul… apanharam os ventos e as águas geladas da Antárctida, a fim de evitarem aquilo que lhes aparentava ser uma costa intrépida agreste e intransponível para a navegação… rumaram novamente a Norte, orientados pela bússola e pelo sextante e ao sabor das fortes correntes do Índico, alcançando a costa Oriental de África, em Port Elisabeth… província do Natal, na África do Sul! Já estavam no início do ano de 1488 quando isto aconteceu… daí o nome dado á província Sulafricana… entretanto as tripulações, desgastadas física e psicológicamente, revoltaram-se, forçando o regresso da frota… navegando sempre com a costa á vista, a estibordo… para não se deixarem enganar! Assim foi descoberto O Cabo das Agulhas, cabo marítimo menos tenebroso, mas que desorientava as bússolas! De seguida, foi transposto o Cabo das Tormentas, o tal “Adamastor” até á altura, invencível, onde se juntam as águas da Antárctida com as do Atlântico e do Índico, originando ondas de trinta metros e correntes fortíssimas que engoliam as naus em três tempos! Mais tarde o Rei D. João II apelidou-o de Cabo da boa Esperança porque ali residia a esperança da rota marítima para Oriente!
-Lindo! As coisas que não sabemos!
-Estamos sempre a aprender!
-…O maior ignorante é aquele que julga tudo saber! O que foi feito desses navegadores?
-O Bartolomeu Dias continuou as suas explorações mais para Ocidente, como braço direito do Pedro Álvares Cabral, aquele que achou o Brasil, morreu posteriormente num naufrágio, em 1500, quando navegava nessa rota!
-Queres dizer que o achamento do Brasil aconteceu antes da navegação a caminho do Oriente!

-Sim, foi o Pedro Álvares Cabral, que, quando navegava em águas a Ocidente, avistou um monte muito alto… e achou as terras de Vera Cruz a 22 de Abril do ano de 1500! Mas levou com ele uma frota de dez naus, e homens de fibra como o Bartolomeu Dias que acabou por falecer durante essa viagem, o Nicolau Coelho e o Gaspar Lemos, que lhe valeram pela experiência adquirida como navegadores! Sem eles… o Cabral estava feito!
-Ah!
“Tonggg… … … Tongggg… … … ….”
-Olha! O sino do campanário… são duas da madrugada! Tenho que ir!
-Já sabes que não consigo olhar, bolas!
-Então ouve!!
-Não vás!
-Oh! Pá! Tu és sempre a mesma coisa!! Chiça! Para a semana eu volto!
-Custa tanto… ficar para aqui sozinho… ao frio…
-Sozinho…também não! E o casalinho ali?
-Esses estão entretidos…
-Talvez sejam teus descendentes! Ás tantas até são primos um do outro sem o saberem! Eh! Eh! Eh!
-Vai à merda!
-Está bem… eu vou… adeus amigo Camões…
-Adeus, grande Cidadão… mas não te esqueças… para a semana…
-…Só se não chover!!
-Outra porra!