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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os seus objectivos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, adormecidas... ou anestesiadas por fórmulas e conceitos preconcebidos. Embora parte dos seus artigos possam "condimenta-se" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade com libertinagem de expressão" no principio de que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros".(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico e por vezes corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausadamente, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas análises, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell).Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de blogues a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, o que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão com alguma delas... mas somente o enriquecimento com a sua abertura e análise às diferenciadas ideias e opiniões, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais e válidos para todos nós, dando especial atenção aos "nossos" blogues autóctones. Uma acutilância daqui, uma ironia dali e uma dica do além... Ligue o som e passe por bons e espirituosos momentos...

domingo, 2 de novembro de 2008

OS BARULHOS DO SILÊNCIO IV




OS BARULHOS DO SILÊNCIO IV
Quarto capítulo - O regresso
O Cidadão dirigiu-se pela quarta vez ao encontro dos dois rios… e ao encontro do Latas… outro amigo. Fazia um frio de rachar… vento fino e cortante… soprando do Norte… a Nortada… vento que arrastava o ruído dos automóveis circulando a alta velocidade… lá ao longe… sobre o tabuleiro da ponte… na auto-estrada… espaçadamente… a hora era tardia… tinha sido Dia de Todos os Santos… transição para o Dia de Finados… em que as famílias mais crentes vão visitar os que já lá estão… aqueles para quem as lutas e labutas terminaram… os que vieram do pó e em pó se transformaram… sim, porque a vida terrena é uma passagem… e há que desfrutá-la… há que saber partilhá-la… porque, apesar de não parecermos… somos todos, pequeninos… no seio do universo… somos uns minúsculos e insignificantes grãos de pó… á disposição das forças telúricas… sujeitos aos caprichos da natureza… e quando julgamos ser os maiores… senhores poderosos do universo, detentores das certezas… quando julgamos dominar os elementos… subitamente… e sem aviso… a Natureza manifesta o seu incomensurável poder, e reduz-nos ao mais ínfimo do ser… uniformizando-nos! São os terramotos… os maremotos… as cheias… os furacões… os vulcões… as catástrofes naturais que nos obrigam a regressar ao mais elementar do nosso ser… e… há as outras catástrofes da intervenção humana… como as guerras… os genocídios… os massacres… os incêndios… a fome… os acidentes de viação e de aviação… e cá o Cidadão, cabisbaixo, foi caminhando pela calçada empedrada… húmida e escorregadia… mergulhado em tais pensamentos… só agora reparando na mudança dos elementos da paisagem envolvente… mais castanha… amarelada… as folhas dos plátanos, prostradas pelo chão… eram varridas pelo vento… as árvores apresentavam-se mais despidas de folhagem e de preconceitos… á direita, as longas e verdes pernadas de um salgueiro teimavam em resistir… balançando ao sabor da ventania… os candeeiros estremeciam… debitando uma iluminação ténue… e ali adiante… sozinho … lá continuava o Latas… hum não era um tipo lá muito bonito… não… mas foi imaginado e concebido por um escultor… assim como nós… os humanos… não somos todos iguais… não somos todos altos, louros e de olhos azuis… somos” todos diferentes… e todos iguais”! Ah! O nosso Escultor! Também os possuidores de deficiências físicas… paraplégicos… tetraplégicos… com síndroma de Down… progeria… ou portadores de deficiências mentais… também esses, não serão agradáveis aos nossos órgãos sensoriais… mas é o que nos testa como seres humanos, quando confrontados com situações destas… devemos aceitar e acolher! Ora cá está a almofadita… hum… gola para cima e gorro de malha, forrado a Gore-tex enterrado na cabeça… cobrindo as orelhas … cachecol enrolado ao pescoço… brrr… um arrepio de frio… deve estar a nevar lá para a Serra da Estrela! O Cidadão sentou-se no sítio do costume!
-Olá Camões!
-Ah! És tu! Não te estava a conhecer… nessa figura…
-Pois…pois… está um frio do caraças!
-E isso é agora… quando forem para aí umas três horas da madrugada… aqui… batem-se latas!
- Toma lá este cachecol! Enrola-o ao pescoço… vá!
-Cheee! Chega para lá essa porcaria! Quanto mais um tipo se agasalha, mais se constipa!
-Também tens razão! O organismo do ser humano, possui as suas próprias defesas naturais que são activadas quando confrontadas com situações adversas! Daí, existirem tantas alergias… o ser humano protege-se demasiado, levando a que esses dispositivos orgânicos deixem de actuar a seu devido tempo, baixando essas defesas, face a ataques exteriores! Os agasalhos excessivos, os banhos exagerados, os detergentes anti -sépticos, o ar condicionado, os termo- ventiladores, as lareiras extremamente quentes, o abrigar das chuvas e dos ventos, o evitar os pólenes… os choques térmicos… e depois para substituição dessas defesas orgânicas que se fazem inócuas, ingerem-se anti-histamínicos, antibióticos, anti-depressivos, ansiolíticos, e outros tantos químicos artificiais. Mas, quanto às tuas aventuras… onde ficámos na semana passada?
-Na semana passada não! Já lá vão quinze dias! Eu aqui á tua espera! Por onde andaste? Raios ta partam!
-… Fui ter com uns amigos de longa data! Desculpa lá, pá! Era um encontro que não podia perder!
-Entretanto houve a mudança da hora… andei um pouco baralhado…
-Sabes que a alteração horária afecta o relógio biológico e o metabolismo do ser humano e dos seres vivos que dele dependem?
-Chiça! As coisas que tu descobres!
-E sabes que mais? Sendo o ser humano dotado de raciocínio, durante cerca de dois a três dias úteis tem manifestações de desorientação espácio-temporal, irritabilidades inopinadas e cansaço físico… revelando dificuldades nos domínios do cognitivo, afectivo e do psicomotor, que se vão dissipando subtilmente…
-Fartas-te de ler…
-Podes crer… é um vício do caraças! Tenho sempre dois ou três calhamaços na escrivaninha… isso e jornais… às vezes, com o trabalho á mistura, vejo-me á rasca para dar conta do recado! Mas prossegue lá, o relato da tua epopeia…
-Pronto, Tinha sido recolhido por uns monges Budistas, no Mekong. Estive por lá uns tempos e depois fui resgatado por uma nau Portuguesa que me levou de regresso a Goa e por lá fiquei vivendo com muitas dificuldades e escrevendo uns poemas…, até que, em 1567 na cidade de Cochim, travei-me de conhecimentos com um tal Pêro Barreto, que foi entretanto nomeado capitão para Moçambique e Sofala e me ofereceu emprego e muitas ilusões por lá, adiantando-me duzentos cruzados para a viagem… durante esta, meti-me no vício dos jogos, dos dados e das cartas, onde contraí dívidas ainda maiores… fui viver para a ilha de Moçambique… nesse tempo, pertencia á administração de Sofala. Entretanto o Barreto começou a atentar-me o juízo, exigindo-me submissão e o pagamento das dívidas, até que um dia me passei dos carretos e briguei com ele! Como era o capitão, escusado será dizer que mais uma vez, fui bater com os costados á prisa!

-“Ele não teria parecido ser o demónio, se na sua primeira aparição, não lhe tivesse aparecido como um anjo”…
-Âh?! Onde é que já ouvi isto??... Entretanto, depois de libertado, continuei por lá, na fome e na miséria… sujeito ao frio, compus uma colectânea de poemas líricos, o“Parnaso Lusitano”… fui aproveitando para retocar a minha obra favorita… “OS LUSIADAS”… até que finalmente no Verão de 1569, nos últimos meses do ano…
-Espera lá! Então, nos últimos meses do ano… é Verão?
-È pois! Enquanto cá no Hemisfério Norte é Inverno, no Hemisfério Sul é Verão!
-Pronto… pronto, já sabia!
-Então… se já sabias… porque perguntaste? Melga!!!
-Nada, nada, continua!
-Nos fins de 1569, umas naus que regressavam das Índias com o Vice-Rei Dom António de Noronha, fizeram escala na Ilha onde eu vivia! Nelas, viajavam uns Cavalheiros que me encontraram na completa miséria… um autêntico farrapo humano… deambulava pela Ilha, moribundo, falando na Pátria… foi um homem de bom coração, o Diogo de Couto, que durante os seus passeios por terra, deu comigo e foi alertar os amigos… para me verem nesse estado… compraram-me umas roupas decentes… não me posso esquecer desses Cavalheiros… eram eles, o António Ferrão, o Luís da Veiga, o Duarte Abreum, o Heytor da Silveira e o António Cabral… mas o Pêro Barreto não me deixava partir sem o pagamento das dívidas e assim foi. Esses Cavalheiros pagaram-me as dívidas como se fosse um resgate e, juntamente com o Jau, meu escravo Javanês comprado em Moçambique, parti na nau Santa Clara, rumo a Lisboa!

-Que idade tinhas?
-Para aí… uns quarenta e cinco anos!
-Olha lá… esses poemas do “Parnaso Lusitano”… nunca os li!
-Pudera! Fanaram-mos! Mas o meu sonho era mesmo imprimir os “OS LUSIADAS”
-Ah!
-Cheguei a Cascais em 7 de Abril de1570 e fui viver para a Mouraria, em casa da minha Mãe, Dona Ana de Macedo… continuei na penúria… tentei escrever… descansava a cabeça na escrivaninha…faltava-me a concentração… a epidemia da Peste Negra, ceifava as almas de Lisboa a torto e a direito…
“Ah, Fortuna cruel! Ah, duros Fados!
Quão asinha em meu dano vos mudastes!
Passou o tempo que me descansastes;
Agora descansais com meus cuidados.

Deixastes-me sentir os bens passados,
Para mor dor da dor que me ordenastes;
Então núa hora juntos mos levastes,
Deixando em seu lugar males dobrados.

Ah! quanto milhor fora não vos ver,
Gostos, que assi passais tão de corrida
Que fico duvidoso se vos vi.

Sem vós já me não fica que perder,
Senão se for esta cansada vida
Que, por mor perda minha, não perdi”

Continuei com a ambição de editar a minha obra… era o que me dava alento para viver… uma obsessão!… Não tinha com que comprar roupas… as que usava, eram-me apertadas… e foi assim que, sorumbático, apelei para esses fins, ao Conde do Vimioso, Dom Manuel de Portugal. A Realeza permitiu que publicasse a minha obra! Fiquei feliz! No entanto ainda passou pelo inquisidor Frei Bartolomeu Ferreira que lhe retirou algumas passagens mais incomodativas para o Reino e para o Clero! Seguiu para o Tipógrafo Mestre António Gonçalves, com oficina na Costa do Castelo, onde os primeiros duzentos exemplares sairam engatados com gafes e erros tipográficos… foi sempre a despachar… sabes, má vontade… e subvalorização do meu trabalho e dos meus esforços!
-Isso aconteceu muito tempo depois de chegares a Lisboa?
-Sim… passados dois anos… no início de 1572… Depois, Dom Sebastião, um jovem Monarca compreensivo e de mente mais aberta e vanguardista, apreciou o meu trabalho, visto relatar acontecimentos e lugares, valorizou o meu passado atribulado, pelos serviços e sacrifícios passados na Índia em favor do Reino. Concedeu-me uma tensa de quinze mil réis anuais, durante três anos, o que correspondia a quarenta e um reis diários, esta pensão foi-me renovada a dois de Agosto de 1575 e, novamente, no ano de 1578, graças à compreensão de Dom Sebastião…

-Quarenta reis por dia eram suficientes para viveres confortavelmente?
-Qual quê?! Por exemplo, um carpinteiro ganhava cerca de cento e sessenta réis por dia! O que me valia era o fiel escravo Jau, que me trazia as esmolas recolhidas pelas ruas de Lisboa, durante o dia!
-Então… fama… e nome?
-Pois, pequenas composições líricas e cartas escritas com mestria… em Ceuta, na Índia e em Lisboa iam correndo de mão em mão e eram divulgadas em cancioneiros particulares… para além dos “LUSIADAS” ainda publiquei mais três poemas, em vivo!
-E assim foste sobrevivendo…
-Só que, para meu azar, Dom Sebastião nomeou o poeta Diogo Bernardes para relatar as suas proezas nas batalhas contra os mouros… deixando-me para segundo plano, o que originou uma guerra surda entre mim e o Bernardes… para meu azar, Dom Sebastião desapareceu no nevoeiro da Batalha de Alcácer Quibir… fiquei desamparado! A tensa passou a ser-me paga irregularmente…
-Isso foi quando?
-A quatro de Agosto de 1578!
-E daí em diante…
-Daí em diante caí em desgraça! Passei a depender do meu escravo Jau que andava a pedir palas ruas de Lisboa… a Peste Negra assolou o reino em 1579 com tal violência que dizimava tudo á sua passagem… não escapei desta! Tive febres intensas… caí na cama… num quarto escuro… foram passando os meses… lutando contra a maleita… resistindo á Peste… e depois fui definhando… muito lentamente… a minha mãezinha, já velhinha e cansada, acudia-me com sangrias, sumo de serpilho misturado com leite de mulher, xarope feito de gengibre, canela, cominhos e açafrão… a lareira sempre acesa… para queimar o ar nauseabundo e a maleita… calor…a Primavera ia quente… ainda implorei, escrevendo a Dom Francisco de Almeida, referindo-me ao desastre de Alcácer Quibir, á ruína financeira da Coroa, á afeição á Pátria!
Foge-me pouco a pouco a curta vida,
– se por caso é verdade que inda vivo – ;
vai-se-me o breve tempo d’ante os olhos;
choro pelo passado em quanto falo,
se me passam os dias passo a passo,
vai-se-me enfim a idade, e fica a pena.
Que maneira tão áspera de pena!
Que nunca uma hora viu tão longa vida
em que possa do mal mover-se um passo!
Que mais me monta ser morto que vivo?
Para que choro, enfim? Para que falo,
se lograr-me não pude de meus olhos?
Ó fermosos, gentis e claros olhos,
cuja ausência me move a tanta pena,
quanta se não compreende em quanto falo!
Se, no fim de tão longa e curta vida,
de vós m’inda inflamasse o raio vivo,
por bem teria tudo quanto passo.
Mas bem sei que primeiro o extremo passo
me há-de vir a cerrar os tristes olhos
que Amor me mostre aqueles por que vivo.
Testemunhas serão a tinta e pena,
que escreveram de tão molesta vida
o menos que passei, e o mais que falo.
Oh! Que não sei que escrevo, nem que falo!
Que se de um pensamento noutro passo,
vejo tão triste gênero de vida
que, se lhe não valerem tanto os olhos,
não posso imaginar qual seja a pena
que traslade esta pena com que vivo.
Na alma tenho contino um fogo vivo,
que, se não respirasse no que falo,
estaria já feita cinza a pena;
mas, sobre a maior dor que sofro e passo
me temperam as lágrimas dos olhos,
com que, fugindo, não se acaba a vida.
Morrendo estou na vida, e em morte vivo;
vejo sem olhos e sem língua falo;
e juntamente passo glória e pena.
-Fala baixo, que acordas o pessoal!!
- Os tempos eram penosos e o sofrimento enorme… até que um dia… depois de me dar a refeição… minha Mãe saiu do quarto… deixou-me um prato com comida… entre as mãos e um olhar enrugado… terno… piedoso de despedida para sempre!
-E isso foi a…
-Dez de Junho de 1580! Numa casinha da calçada de Santana!
-E a tua Mãe…
-Por piedade, a Coroa transferiu a pensão para a minha Mãe!
-E foste sepultado com honras e glória!
-Não… deixaram-me ali num canto da banda de fora do cemitério do Convento de Santana… e foi a Companhia dos Cortesãos que suportou as despesas do funeral! Depois da minha morte é que começou o verdadeiro interesse pelos meus poemas… pelas minhas comédias… e pelos meus autos…”Auto do Filodemo”, “Auto D’el Rei Seleuco” e “Auto dos anfitriões”!
-E… “OS LUSIADAS”?
-A segunda publicação dá-se em 1584 com o título “DOS PISCOS”! Completamente mutilados pela censura e pela inquisição… por motivos religiosos… sai a terceira edição… e a quarta em 1609, todas mutiladas… em 1670 já são dezoito edições! Os séculos passaram-se… estudiosos de todo o o mundo interessaram-se pelas minhas obras… e fez-se justiça! Fui elevado a Herói Nacional! Até tenho um dia dedicado a mim! O Dez de Junho! O dia da minha morte, vê lá tu! Entretanto trasladaram os meus restos mortais para o Mosteiro dos Jerónimos e, a partir de 1880, o Vasco da Gama veio descansar para ao pé de mim, depois de ter repousado uns tempos na vila da Vidigueira!
-Mas… afinal, o que pretendias transmitir na tua obra?
-Ouve, queria louvar a História Portuguesa, os valores cristãos e os sentimentos humanistas… e criticar a política colonialista da coroa portuguesa! Também quis evidenciar os heróis trágico-marítimos, os Deuses mitológicos, as paixões e as intrigas, as batalhas, as aventuras e a cobiça do Reino de Portugal em expansão!
-Baseavas-te em alguns mestres da escrita, ou… era tudo tirado das tuas ideias?
-Agradaram-me as obras do poeta Italiano, de sua graça Ludovico Ariosto, principalmente de “ORLANDO FURIOSO”… e da “ENEIDA”, de Virgílio! Foi o meu sonho… escrever uma coisa assim do género!
-Mas sabes Camões… tu continuas VIVO! As tuas obras imortalizaram-te, julgando tu, que imortalizarias o Vasco da Gama! Continuas vivo apesar do teu triste fado… continuas vivo graças às tuas aventuras, continuas vivo pelo teu amor e dedicação á Pátria! Enalteceste a mulher, como anjo mensageiro da paz e do amor, mas também pela sedução pelo desejo e paixão carnal! Confrontaste o corpo com o espírito! Confrontaste a razão com o desejo! Os ideais, o Lírico e o Platónico! Cantaste o amor no seu transcendente espiritual e afectivo…Hoje, traduzida para todas as línguas universais, a tua obra é uma escola para muita gente!
-Obrigado pelo teu conforto!
-Diz-me cá… ainda te lembras das datas das publicações e das obras que produziste?
-Lembro-me pois! Em 1572- “Os Lusíadas… na área da lírica, em 1595 – “Amor é fogo que arde sem se ver”, em 1595 – “Eu cantarei o amor tão docemente”… em1595 – “Verdes são os campos”…em1595 – “Que me quereis, perpétuas saudades?” … em 1595 – “Sobolos rios que vão”… em 1595 – “Transforma-se o amador na cousa amada”…em 1595 – “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” …em1595 – “Quem diz que Amor é falso ou enganoso”… em1595 – “Sete anos de pastor Jacob servia” … e as peças de teatro… em 1595 – “Alma minha gentil, que te partiste… em1587 – “El-Rei Seleuco”… em 1587 – “Auto de Filodemo”, e, ”Os Anfitriões”… em 1587!
-Pois é, Camões… e nós os dois aqui ao frio...
-E ao vento…
.Toonggg... … Toooonnngg… ….
- Ouve! O sino do campanário… Já são duas da madrugada…
-È Domingo… e Dia de Finados…
-Tenho que ir…
-È triste…
-O quê?
-Teres que ir embora! É a nossa separação!
-Prometo, Camões que te venho visitar mais vezes…
-Mas… já sabes a história da minha vida!
-Os amigos não se esquecem… e vou divulgar estas conversas na Internet!
-O que é isso?
-È um sistema electrónico de comunicação entre todo o Mundo!
-Se eu tivesse isso no meu tempo… não havia a dificuldade em divulgar as minhas obras…
-Depende… Sabes que, para isso ser possível, é necessário um computador!
-O que é isso?
-Uma maquineta que permite a tal comunicação e que se pode transportar connosco! Ou se encontra á disposição em locais públicos!
-Ah! O Magalhães!
-Por exemplo! Com o Magalhães, quando naufragaste, não se estragavam os escritos, porque é á prova de água… e ainda servia para jogares ás carolas dos teus adversários nas brigas… porque é anti-choque!
- A sério?!!!
-Ainda virá a servir de torradeira, se a coisa for bem desenvolvida e estudada! Já viste? Sai uma tosta miiista! Entalam-se as côdeas dentro do tipo e zás! Passados dois minutos é só digerir a sandes!
-Hummm… e o conduto?
-O conduto… pões tu! Mas olha que é em homenagem ao navegador…
-Qual? Ao Fernão de Magalhães??
-Pois… a esse mesmo! Conheceste?
-Quer dizer… não o conheci pessoalmente porque nasci três anos após a sua morte… mas ouvi falar bastante dele! Cum catano!!
-Então… conta lá!
-O Tipo nasceu em Sabrosa no ano de 1480… era filho do Rodrigo Magalhães e de Ana Mesquita e andou ao serviço da Corte Espanhola… pagavam melhor… estás a ver? Descobriu a rota de circum-navegação pelo Globo Terrestre e venceu o estreito que hoje tem o seu nome! A partir daí , ficou a saber-se que a terra não era plana! Foi o primeiro europeu a navegar nas águas do Pacífico… acabou por falecer nas Filipinas em 27 de Abril de 1521! Tinha quarenta e um anos… viveu pouco tempo!
-Olha, pode ser motivo para outra conversa… mas agora já são duas e um quarto!
-O que é que tens aí no braço? Uma pulseira Africana de missangas?
-Não! Um relógio, porra! Vá lá, o que tu queres é conversa… bem se vê!
-No meu tempo não haviam essas porcarias…. Orientávamo-nos pelas estrelas e pelo Sol… e prontos!
-Já me levantei… e vou-me embora!
-Não vás!
-Qualquer dia volto a visitar-te! Adeus! Adeus!
-Olha! Ouve-me só esta!
As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.

Dai-me hüa fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no Universo,
Se tão sublime preço cabe em verso(…)”
-Âh?? Merda! “ # **$*»«+`%&” !! É que se foi mesmo embora!
Eh! Eh! Isso não vale!