.

.

Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os seus objectivos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, adormecidas... ou anestesiadas por fórmulas e conceitos preconcebidos. Embora parte dos seus artigos possam "condimenta-se" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade com libertinagem de expressão" no principio de que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros".(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico e por vezes corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausadamente, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas análises, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell).Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de blogues a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, o que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão com alguma delas... mas somente o enriquecimento com a sua abertura e análise às diferenciadas ideias e opiniões, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais e válidos para todos nós, dando especial atenção aos "nossos" blogues autóctones. Uma acutilância daqui, uma ironia dali e uma dica do além... Ligue o som e passe por bons e espirituosos momentos...

sábado, 28 de fevereiro de 2009

CRISEÂNTHIMUS





CRISEÂNTHIMUS
Numa fresca manhã de Fevereiro cá o Cidadão trepava pela Avenida do 165º dia…, 166º se bissexto fôr, restando treze luas para o reveillon, entre cheiinhas e novas, dia que Abrantes passou a cidade, no ano da graça de 1916, após Dom Afonso Henriques ter conquistado o castelo á infiel mourama… segundo os sábios, a 8 de Dezembro de 1148.
Foi na disputa dos primeiros raios de Sol com a neblina e contemplando a rotundazinha descentrada, onde marcaram encontro a rua do Catroga e Gaio e a das Acácias que o Cidadão deu pela falta das roseiras, estando lindos calhaus rolados em seu ornamento… pois os seixos carecem menos manutenção que as plantas… por ora brotando repolhos ao centro da circunferência… prosseguindo a sua matinal caminhada e transposto o viaduto da Avenida das Forças Armadas, local propício á grudação de anúncios em papel, onde jovens extravasam a expressão plástica, despejando latas de troglodíticos grafittis… vencidas as escadinhas lavradas e integrando-se na Avenida belicista, o Cidadão constatou que as roseiras plantadas na placa separadora rodoviária… também deram de frosques!

As flores que protagonizavam estes lugares deram espaço a solitária rede estendida sobre terra revôlta, como se os coelhos de Santa Catarina resolvessem mudar suas lúrias para territórios movimentados… Recorrendo á memória a curto prazo, o Cidadão reportou-se á tal rotunda estrábicamente projectada… se por lá são evidenciados os calhaus… neste jardim á beira do alcatrão plantado recomendar-se-ia a sua decoração com singelos crisântemos!
O quê… não estão percebendo o raciocínio? Cá o rapaz também não…
Ora bem… qual será o timing certo para um Dom Juan presentear estas lindas flores á amada? Quando fôr promovida a desamada… chata, ingrata, melga, burra de saias, cegueta, desdentada, borbulhona, gordalhufa, escanzelada, que anda com outro gajo… e a um rol de cenas por aí adiante, dando asas á imaginação de cada um!
Tudo, por culpa da libido!
Vencida a fase da libido sciendi, que será nada mais nada menos do que a descoberta do parceiro, funcionando as feromonas segregadas pelo organismo massivamente e em toda a sua pujança, quer aplicadas artificialmente sob a forma de agradáveis fragrâncias, tendo os aerossóis por suporte difusor, (alargando o buraco do ozono), recorrendo cumulativamente ao roll-on, ou exprimindo-se visualmente através de imagens sensuais, deitando mão a vegetais do género das rosas, dos lírios ou das tulipas… por parte deles…
Contemporâneamente, a coisa funciona por SMS ou via Net…
No que concerne a elas… é o cabo dos trabalhos… têm um poder de sedução tremendo… basta encurtarem os trapinhos, arejarem as canelas dando outra dimensão àqueles corpinhos… decorando-se com rimélzitos, batôns... pózinhos de perlimpimpim… metamorfoseando-se numas queridinhas e… pimba! Está no papo!
Caem que nem uns patinhos!
Pelo Japão, as gueixas enfeitam seus longos cabelos negros com galhitos de Sakura, decorando o jardim de seus lares com as sedutoras flores desta planta mágica, revelando a insaciável busca do amor-perfeito.
Segue-se a fase da libido sentiendi … o desejo sensual de possuírem… e serem possuídos, encaminhando-se mais para o sintético despir de calcinhas e camisinhas, vestindo outras de enfiada… encontrando-se o casal envolvido em letárgico estado de assolapada paixão… labutando contra violentos e potentes instintos reprodutores…
Tudo estudado por um santo…vejam bem!
O Santo Agostinho… esse maroto!

Freud… chegou atrasado por aqui…
Tem lógica, sim senhor…
Finalmente, a derradeira fase da libido dominendi, o raio da mania controladora… dominadora do parceiro… uns autênticos louva-a-deus! A porcaria da ciumeira… do desconfianço… o excesso de testosterona é responsável pela posterior rotura do casal… em vez do moço lançar um magnânimo vaso de cerâmica á carola da companheira… obsequia-la com fascinante bouquet de crisântemos… ficando o assunto encerrado!
Qual a época ideal para se dar inicio á plantação de tão encantadores exemplares do reino vegetal?
O quê… Vosselências não consultam o Borda-d’Água?!
Erro crasso, o vosso!
Encontrem um exemplar com “éme” envolvido por escarlate ferradura, coroando a cartola d’um caixadóculos enfarpelado em casaco de grilo… tudo Black & White… monocromático… perceberam? Porque os outros são contrafacções!

Senão vejamos… hummm… Fevereiro… página quatro… secção “AGRICULTURA, JARDINAGEM, ANIMAIS”… “ nabo”… “brócolos”… ““podar no Minguante”… “de grelo”… De grelo!? O que é isto? Ah!.. “espargos”… “rabanete”… “couves de Bruxelas”… ”…”salsa”… “segurelha”… “tomates”…
Xatice pá! Irra!!!
Mas onde estará escrito?
Ah! Diz aqui:”No Jardim, proteger os pés-mães de crisântemo com palhuço (palha miúda) para se obter mais estacas”! Quer-se dizer que pegam de estaca!
A palha de Abrantes não serve para o caso, devido ao seu elevado teor de sacarose, posto o facto de os crisântemos poderem ser diabéticos!
Ora bem, parece que o arbusto deveria ter sido plantado há uns meses atrás…
Consultemos o “Verdadeiro Almanaque” pela enésima vez… Recuando até… Ó caraças… Se o Cidadão não tivesse guardado o “Bordas” do ano da graça de doismileoito, agora estava tramado e acabava-se por aqui a malfadada crónica p’ra Vosselências… ah!... Outubro… décimo mês… trinta e um dias… ora bem… “Jardim: estrumar, semear flores… (…) e plantar roseiras, crisântemos”…
Cá está! A coisa induziu-se há uns tempos … como nos desamores…
Sendo o crisântemo uma planta exótica importada do Oriente desde a época do Camões, e deitando unhas á cultura popular, estas singelas flores são adjectivadas de “Despedidas de Verão”, ou “Amores Acabados”!
Caminhando sem destino… o Cidadão trepou a íngreme ladeira rente ao Ex-Líbris Abrantino!... Não o eléctrico vermelhão, desprovido do másculo pantógrafo saindo duma casamata cinzenta… mas a alva torre de telecomunicações, listrada a escarlates faixas em seus envidraçados varandins, sugerindo apontar os Céus!
A alcançar o topo da colina… o que viu?
Valha-nos Santo António!

A vegetação já era!
Arrancada pela raíz! Coisa parecida… só mesmo a cena presenciada pelo rapaz há um punhado de anos quando da passagem de um furacão por certa montanha do globo! Pois… também não exageremos… Seria um clone desse furacão! Ou clone de ciclone! Está bem, prontos… vá lá… um pejinho! Assemelhava-se mais ao trabalhinho dum dinossauro fossante, cota de javali! O brachiosaurus, por exemplo, seria bichano capaz de fazer um serviço destes em três tempos!

Restaram as esculturas de ferro para relatarem o sucedido ás bandas cimeiras de Tubucci! Uma delas, com flores perfiladas, evocava crisântemos metálicos! O “heavy- metal” dos vegetais!
Sugeria que embelezassem aquele espaço com a escultura ferrosa da Pedreira do Galinha, ostentada no planalto da Serra de Aire, junto ás pegadas dos Dinossauros!

Navegando pela pré-história, veio á ideia que aquilo se tratasse da incessante busca de combustíveis fossilizados… ouro negro… ou outra cena assim! Reportando-nos há uns anos, sucedeu idêntico episódio na rua de Angola e na Avenida General Humberto Delgado, a caminho do centro de cogitação juvenil Doutor Manuel Fernandes, que foi Lassalle! Reza a lenda que, por aquelas bandas o arvoredo sujava estradas, passeios e viaturas, desencadeando alergias aos fragilizados seres humanos, não dispensando as condicionadas aragens, os imprescindíveis râibãns e outros apetrechos tecnológicos inibidores das defesas naturais! Alguns residentes explicaram cá ao Cidadão, que os choupos foram erradicados por mor de dois ou três se portarem mal… de tão idosos, despejavam galha aqui, galha ali, galha acolá, incomodando os veraneantes! Vai daí o radical botabaixo! Também a cena das alergias, as folhagens inconvenientes que largavam… coisas ruins… arrancar aquilo tudo, foi um ar que lhes deu… roseiras incluídas! Sim… as roseiras também se portariam mal… arranhavam as pernas ás cachopas que rebolavam por aquelas paragens! São umas malucas… as roseiras, claro! Se por ora o tentarem fazer, baldearão com os seus companheiros para o aconchego de tais crateras, buscando inovadoras posições que não lembram ao Mallanaga Vatsyayana!
Deste modo, o pessoal poderá desfrutar do tão almejado aquecimento global, banhando-se em ultravioletas enviados através do orifício do ozono!
Ao que darão lugar tão frescos e sombrios choupos? Talvez a umas Ameixoeiras, (que serão Cerejeiras…), vindas de Hitoyochi? Pelos vistos, a famosa árvore será a Sakura Zansen, ou “Prunus serrulata,” da qual, reza a lenda que uma linda princesa desceu dos Céus levitando sobre a Cerejeira, tal Nossa Senhora de Fátima revelando-se aos pastorinhos. Crê-se que “Sakura”, seja a derivação onomástica da princesa Konohana Sakuya Hime, que significará “a princesa da árvore de flores abertas”.

Outros dizem que o nome da planta tem a sua origem no cultivo do arroz e sua divindade “Sa”. A segunda parte do nome, “kura”, faria referência à sua morada. Sempre se juntava a beleza da flor á agradável frescura da sombra…
Não venham para cá com a treta da Ameixoeira, que apesar da mesma famelga, só nos provoca desinterias! Segundo consta, umas árvores tropicais pegarão de estaca por aqueles altos, ao género da que mora junto á tasquinha… não darão sombra… não darão fruto… servirão apenas para Inglês ver!
“-Que trazeis em Vosso regaço…”
São Jacarandás, Senhor?

Esta terra está ficando pejada de plantas exóticas.