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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os seus objectivos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, adormecidas... ou anestesiadas por fórmulas e conceitos preconcebidos. Embora parte dos seus artigos possam "condimenta-se" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade com libertinagem de expressão" no principio de que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros".(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico e por vezes corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausadamente, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas análises, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell).Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de blogues a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, o que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão com alguma delas... mas somente o enriquecimento com a sua abertura e análise às diferenciadas ideias e opiniões, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais e válidos para todos nós, dando especial atenção aos "nossos" blogues autóctones. Uma acutilância daqui, uma ironia dali e uma dica do além... Ligue o som e passe por bons e espirituosos momentos...

sábado, 19 de março de 2011

COCOROCÓ



COCOROCÓ

Já este artigo se encontrava na forja quando em catadupa foram surgindo assuntos de interesse imediato, nomeadamente os vertidos nos post’s A luta é Alegria,À Rasca!? e Nuclear? arrastando o cocorocó para quartas núpcias. Chegada a hora de o publicar, cá vai... 
Ciberleitora e ciberleitor, façam o favor de serem felizes!
Desde a introdução dos glutões no detergente para lavagem da roupa, os técnicos alimentares e outros especialistas em marketing dedicaram-se a introduzir aditivos nos géneros alimentícios e não só.
São o bífidus activus e os ómegas 3 nos iogurtes, são o zinco e as ureias nos champôs, são a cenoura e os óleos de cedro e linhaça nos protectores solares, são o cálcio, a soja e os bens especiais no leite, é a uva no vinho, o esfoliante e os aloés veras no papel higiénico... ou o light nos refrigerantes, havendo outros desaditivados, como o caso do café descafeinado, o tabaco desnicotinado, a cerveja desalcolizada, etecetrital...
Nas aves, foram aditivados os nitrofuranos que reforçavam as banhocas nas senhoras e o H5N1 que desenvolveu a indústria de determinados laboratórios, até chegado o dia em que os técnicos alimentares de uma grande superfície resolveram introduzir-lhes o cocorocó...
o Cidadão, bombardeado pelos spot’s publicitários que desfilavam constantemente no éter e nos cabos de cobre e fibra óptica, com o raio do cocorocó a não lhe deixar o subconsciente, foi com o cocorocó transpirando por todos os poros que rumou à superfície comercial recomendada, afim de adquirir o tal frango com cocorocó!
Vencida a grande seca da vez, com a senha semi-triangular suada e amarrotada entre os dedos, fazendo recordar os agradáveis momentos que costuma passar nos serviços públicos quando a eles é obrigado recorrer, uma senhora bué simpática, de rosto redondo encaixado sob um boné estilizado em tons de branco e verde, claro... de face coradinha decerto por lidar com a fornalha eléctrica onde os frangos despidos, de peito e perna aberta, levavam com os calores infravermelhos que lhe iam dando aquela tez bronzeada e tostadinha, semelhante à do people solário.
Para que este praça tivesse a certeza de que o frango trazia o tal cocorocó, pediu:

-Um frango e meio por favor, mas com cocorocó!

-A senhora sorriu e perguntou cá ao Cidadão se o desejava com algum molho, ao que, desconfiado com o sentido da pergunta, este a questionou no seguinte modo:

-Com algum molho!?... Como assim?

-Piripiri! Ó molho d’alho!

-???

Retorquiu em voz alta e esganiçada, a simpática funcionária que se apresentava com uns olhos arregalados contornados por encarniçadas pálpebras...

-Então, minha senhora... se adiciona piripiri ou molho d’alho no frango, como é a gente se apercebe do cocorocó?!

-Adquirindo um ar carrancudo, a funcionária pesou e embalou o frangucho e meio em papel vegetal, introduzindo-o num saco de plástico, colando-lhe uma etiqueta retirada da balança... Quando este rapaz segurou na embalagem contendo o bichano e meio... assado, logo se lhe aparentou estar vivinho da silva, saltando de mão em mão... ao que a senhora exclamou por detrás do balcão envidraçado e pejado de chouriços:

-Olhe que o frango está muito quente, senhor!

-Ah, pois, supunha que fossem efeitos do cocorocó!

O olhar fulminante daquela mulher gelou o coração cá do rapaz...
Paga a aquisição e marchando para caselas, este foi fazendo contas de cabeça, concluindo que se o quilo do frango com cocorocó custava 3€uros e 88 centimos, e o quilo do dito cujo sem cocorocó se importava em 2 €uros e 99 cêntimos, o cocorocó valeria 89 cêntimos ao quilo!

Degustado o pitéu em ambiente familiar, bem regado com tintol Corga da Chã e traçado a pão de milho... não se notara qualquer efeito do cocorocó... apenas uma certa euforia, vertigens e diplopia que posteriormente veio a concluir se deverem à ingestão excessiva do Corga e não das fatias do pão de milho ou sequer, do cocorocó!...
Olhou a Companheira, olhou os Juniores...
Todos eles lhe pareceram iguais a si próprios...
A gata Cristie...essa foi a única que não degustou o frango por isso não seria estimulada por algum efeito do cocorocó... apesar de miar com’ó caraças!
Na cama nada de relevante se passou, tudo como dantes... tendo este praça e Companheira adormecido à hora costumeira...
Na manhã seguinte, olhando ao espelho da casa de banho, apenas se definiam as olheiras e uns milímetros de barba... nada de mais... nada de especial...
Não havia indícios do efeito cocorocó!
Raios partam isto!
Inconformado com o logro e vestida a farpela, este praça dirigiu-se à superfície comercial onde tinha adquirido o frango com cocorocó... munido do talão de pagamento onde constavam os 5 €uros e 24 cêntimos de um quilo trezentas e cinquenta gramas de frango!
Pelo cocorocó,o Cidadão abt houvera desembolsado 1 €uro e 20 cêntimos e, considerando o IVA a 13%, o Estado português mamou 16 cêntimos do cocorocó!
16 cêntimos são 32 e$cudos dos antigos, IVAdos em cocorocós!
Foi procurar o responsável da superfície comercial dando com uma responsável que por sua vez solicitou a presença da decoradora, uma senhora de estatura mediana, enérgica, cabelos pretos e carinha laroca, com um sorriso lindo e permanente, pessoa com o perfil ideal para o desempenho de tais funções, demonstrando capacidades para desmobilizar este praça a solicitar o Livro de Reclamações!
Com os três encerrados num gabinete, este rapaz recebeu a explicação para o cocorocó dos frangos!
De lá saído, olhou o reflexo nas vidraças do pronto-a-vestir, reparando num sósia muito parecido mas bastante mais pálido e de ar distante, olhar vítreo e braços simetricamente suspensos e bamboleantes, caminhando lentamente em direcção à portaria...

«-Porquê? Mas porque é que este Cidadão abt nunca se tinha lembrado disto?!»

Um pensamento que cilindrava o do cocorocó alojado algures no subconsciente...

Em casa, cá o Cidadão sentou-se no sofá olhando o antracite do televisor... desligado!
Sacando da garrafa de bagaceira que o compadre lhe oferecera, encheu um copinho, ingerindo-a de um só trago!
Aquilo desceu-lhe pelo esófago, indo ferver-lhe nas entranhas!
Vieram-lhe lágrimas aos olhos... não eram dum chorar de arrependimento... porque um homem não chora... seriam mais propriamente... motivadas pela combustão interna do vapor do bagaço que doravante lhe ia saindo pelas narinas, pelos olhos, pelos ouvidos e pelos cabelos!

-Carais, que pomada mais forte!

-Olha lá, bebeste isso tudo de uma vez? Depois vens-te queixar dos fígados, não é?

Foia intervenção cá da Companheira sempre atenta aos disparates que este praça fazia!

 «-Podia lá ser! Nunca se ter lembrado disto!»

Pois bem... como devereis calcular, caros ciberleitores que fizesteis um esforço do catano para chegardes até este ponto da crónica marada, o frango, esse desafortunado, antes de o ser... foi pinto e... antes de pinto, foi ovo!

Não desligueis o computador nem mudeis de link porque este assunto aborrecido vai tornar-se bué da interessante!

Nas incubadoras, crescem a olhos vistos os pintos saídos da casca, dia após dia... sob lâmpadas incandescentes, fazendo-se nuns frangos de aviário. Só debicam farelos desensaibidos, farelos e mais farelos com nitrofuranos. Nesses campos de concentração, sem nunca verem a luz dia ou o azul do Céu, afastados dos prazeres mundanos, pouco tempo passam até à derradeira hora de, nos corredores da morte, serem decapitados ou electrocutados em cruéis franguicídios!
Como Vosselências constataram, estes frangos não tiveram tempo de piar nem de gozarem a vida de capoeira.

Pelas ruelas das nossas aldeias sim, desfrutam da merecida liberdade, passeiam as suas lustrosas penugens, debicando minhocas, gafanhotos, agúdias, couves, farelos, sojas, milhos e trigos ralados, enfim, degustam os prazeres da vida... isto até que não apareça um par de Géninhos que aplique a respectiva talhada e ponham os donos do galinhedo em quarentena!
Como as quelhas eram estreitas e ladeadas por habitações e altos muros, quando um camião nelas circulava ocupando todo a largura, por vezes dava-se o atropelamento mortal de uma dessas aves com pouca autonomia de voo que assim seguia antecipadamente para o efervescente tacho!
A seu tempo foi resolvido este problema acoplando-se um sistema automático de aviso nos travões das pesadas viaturas, que consiste em fazer uma súbita descarga de ar comprimido semelhante à de um espirro humano, montado num reservatório montado sob as carroçarias... precisamente com a função de no momento crucial, espantar as galinhas, contribuindo para o aumento da sua longevidade!
...Posteriormente, este sistema beneficiou as comunidades canídeas das regiões em apreço!
Os frangos beneficiavam de um timing considerável para ultrapassarem a idade do cocorocó!
Construíam famílias numerosas com tendência para a poligamia, pese o facto de que alguns galos tentassem impôr a ordem no poleiro...
Veio à memória cá do Cidadão uma cena de violência doméstica, que em certa ocasião um destes galos trazia a cabecita cheia de teias de aranha, não só porque os donos eram desleixados na limpeza do poleiro como, movido pelas gotas de vinho escorrido que beberricava do chão junto à adega. Desconfiando da infidelidade da sua pita, vai daí, cada vez que ela fazia a postura, o meliante bicava-lhe os ovos terminando irremediavelmente com o choco e impedindo que os donos pudessem confeccionar deliciosas omeletas de espargo...
Fartos de gemadas desperdiçadas e para acabar com tal obsessão, o casal de humanos resolveu colocar um seixo rolado do rio no ninho da postura, ludibriando o efeito de um ovo. Ao assentar-lhe as nalgas, achando o corpo estranho de um ovo gélido e pesado, mesmo assim a pita cumpriu a missão de uma boa poedeira... com o cacarejar do aquecimento pós postura, dali se raspou, dando espaço para que o nóia do galaró se aproximasse e desatasse a bicar desalmadamente nos ovos, se bem quando a extremidade do bico se lhe estilhaçou contra o duro e gélido seixo do rio!
De crista perdida, saiu da chocadeira com um cantar desolador, e bico partido, numa fúria desumana exclamou para a sua pita:

«_Aiiiee! fua futa! Eu fá fem fe fesconfiafa! Anfastes a galar fom o Galo de Barcelos!»
Ãh?! Não entendestes?
Liiivra que sois de compreensão leeenta!

Então cá vai...
Dos ovos saem os pintos que crescem e se tornam frangos.
Certo?
Ora bem, a partir de uma certa altura da vida, os frangos começam a interessar-se pelas companheiras... as esporas espetam-se-lhes, as asas arrastam-se-lhes... e saltitam-lhes os biquinhos das patas.
Nelas espigam-se-lhes as cristas, ficando rosáceas... incham-se-lhes as calotas e com os calores do Sol, aos franganitos só lhes apetece saltar para o dorso das pitas, picar-lhes nas calotas, dando-lhes umas esfregas valentes naquelas cristas!
É nesta altura da vida que os frangos se fazem galarós bem constituídos, saborosos, de plumas no peito feito e plumado, e elas, em encorpadas galinhas, apetitosas e prontas a comer!
Vai daí, dá-lhes imensa vontade de se envolverem em cortesias do  truca-truca, arrastando a asa uns aos outros como se tivessem a suspensão partida e cacarejando:
CrróóócóóCrróóCocorocó?”
Os executores de aviário, sabendo desta fase crítica em que as aves estão boas com’ó milho e nas melhores condições para serem comidas, ao cacarejarem em demasia, eliminam-nas sumariamente!
Cortam-lhes o pio não lhes permitindo a mesma longevidade das suas congéneres do campo, nem muito menos lhes dando oportunidade de trocarem piropos fatelas do género:
 -Olá borracho! Tão rijinha estás mêmo boa para uma rica canja!
ou...
-Tão empertigado! Se não fosse cá por coisas, arrancava-te essas moelas e fazia-as num guisado!
Portanto, frangos de aviário e galinhas do campo, se quiserdes alargar a vossa longevidade, nunca por nunca faceis cocorocó junto dos humanos... e por ora, ficai com esta modinha!