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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os seus objectivos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, adormecidas... ou anestesiadas por fórmulas e conceitos preconcebidos. Embora parte dos seus artigos possam "condimenta-se" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade com libertinagem de expressão" no principio de que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros".(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico e por vezes corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausadamente, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas análises, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell).Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de blogues a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, o que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão com alguma delas... mas somente o enriquecimento com a sua abertura e análise às diferenciadas ideias e opiniões, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais e válidos para todos nós, dando especial atenção aos "nossos" blogues autóctones. Uma acutilância daqui, uma ironia dali e uma dica do além... Ligue o som e passe por bons e espirituosos momentos...

domingo, 26 de janeiro de 2014

MEGAPRAXIS


MEGAPRAXIS


 Nos últimos meses têm-nos chegado tristes notícias sobre os trágicos desfechos de determinadas praxes académicas que deliberadamente ou não, trocam a integração pela humilhação.
A praxe tem por objectivo integrar os novos estudantes, designados por caloiros, no mundo académico para assim melhor conhecerem os meandros da casa que os acolhe e ganharem confiança com os mais velhos, veteranos, que por sua vez os orientarão nos primeiros passos, integrando-os num ambiente completamente diferente do vivido até então.
Em Portugal, a praxe académica surgiu no Século XIII, em 1291, tendo o Largo do Carmo de Lisboa por cenário, com a fundação da actual Universidade de Coimbra, sob o lema Dura Praxis, Sed Praxis” – a praxe é dura mas é praxe.
Como deveríamos saber, a mente humana tem bastante de positivo mas também encerra algo de negativo que tal como as ervas daninhas em campo aberto, brotará logo que se reúnam condições nesse sentido.
Ora, os rituais de praxe são ambiente propício para que as mais fracas mentes humanas extravasem o seu ego bem para além da mera troça e achincalho infundados, ao ponto destas se transfigurarem em campos de rituais maquiavélicos onde os seus autores dão largas as comportamentos sádicos, colocando em causa a dignidade e a condição humana, sendo o grau de estupidez directamente proporcional à educação hospedada nos seus incrementadores.
O que diferencia o homem dos restantes animais é precisamente o primeiro ser dotado de inteligência mais desenvolvida do que a dos segundos, inteligência tal que se complementará de princípios básicos recebidos dentro dum sistema familiar, consistindo num dos pilares fundamentais da estruturação social que parece desmembrar-se. 
Hoje em dia não é difícil de nos depararmos com jovens que devido ao défice de atenção, afecto, cuidados e respeito dos progenitores que sistematicamente os atulham em bens materiais e os despejam nos estabelecimentos de ensino, degeneram bloqueios afectivos no subconsciente, deleitando-se com o sofrimento, a desgraça e as dificuldades acumuladas ao desejo de assistirem aos seus semelhantes dificultados no alcance do desejado, consistindo numa forma subtil de minimizar a sua infelicidade ao se sentirem bastante melhor dentro do seu ego perante a humilhação infligida a outrem!
Não tive atenções nem afectos que me preenchessem, portanto, vós, meninos e meninas que vindes para aqui, também não os merecerão e como tal serei prepotente, déspota, supremo, altivo, duro, austero, cruel e implacável para convosco... que perante mim não passais de significativa escória humana... 
Fomentarei o consumo exacerbado de álcool, especialmente de cerveja e promoverei em vós a mediocridade gratuita, o culto do arroto aliado ao machismo, a simulação de práticas sexuais, as sevícias corporais, a humilhação, a javardice e a pimbalhada do Quim Barreiros...
Depois de algum tempo recebendo formação académica, ainda assim determinados veteranos praxantes só entendem ser esta como a forma mais saudável de integrar os novatos no ambiente universitário!
Simultaneamente a uma espécie de bullying académico, para gáudio dos autores, cultiva-se bastante trogloditismo durante as praxes.
Ora, é exactamente numa sociedade onde valores materiais vão ocupando o espaço reservado aos valores morais que a mente humana tem tendência a produzir comportamentos desviantes que inicialmente se traduzem na desestruturação dos valores familiares que por sua vez descuram as gerações vindouras cada vez mais vocacionadas para mundo da ostentação, só que não seja, cultivando do ego pela via que se lhes depara mais acessível...
Não sendo cá o Cidadão um praticante fervoroso, porém entende que na sua essência, os movimentos de cariz religioso, sejam eles de qualquer corrente teológica, em termos colectivos vêm preencher e complementar este espaço da mente humana, orientando os seus fiéis no caminho dos bons princípios e práticas sociais sim, porque se não formos eremitas, estamos constantemente a partilhar o nosso espaço físico e mental com outrem!
Como cá o Cidadão frisou no início desta crónica, a praxe é positiva desde que executada com regras, peso, medida, nunca descendo abaixo da linha da dignidade humana e muito menos extravasando os limites do razoável, bem para além das noções espartanas de cariz militar.
A vulgarização das faculdades, universidades e institutos politécnicos e o fácil acesso aos mesmos, levou a que hoje, na sua regressiva frequência devido à austeridade económica que vivemos, também as praxes se vulgarizaram ao ponto de muitas das comissões que se deveriam incumbir em abalizar os limites do razoável, zelando pela ordem e pela dignidade dos caloiros, perderam completamente a noção das suas funções, tão só porque essas jamais lhes terão sido transmitidas, ao ponto de, a troco da não ostracização dos novos estudantes, permitirem-se a rituais de contornos puramente maquiavélicos na forma de sevícias e consequente a humilhação física e psíquica dos seus súbditos, envolvendo contornos criminais, que ressalvando as situações que redundam em tragédia, é fenómeno juvenil que vai grassando descaradamente perante a indiferença das autoridades públicas, porquanto estas práticas extremas já terão sucedido desde o Século XVIII quando D. João V decretou o fim das praxes depois da trágica morte de um caloiro ou seja, ainda estaremos perante um ritual de iniciação com características medievais. 
Comparemos essa atitude à da permissividade revelada pelos nossos ministros face à sucessão de acontecimentos nada dignificantes nesta área e cuja gravidade vai aumentando de tom, ano após ano...  
Seguramente afirmaria que são as fraquezas da democracia constitucional, aliadas à promiscuidade de interesses dos grupos comerciais onde coabita o amiguismo, tentando-se evitar que em situações críticas os responsáveis pelos estabelecimentos de ensino fiquem fora dos excessos.
Integrado num grupo, facilmente o individuo se deixa afectar ao nível cognitivo na frequência da sua actividade mental, deixando de raciocinar por si, submetendo-se aos ímpetos do colectivo, assim diminuindo a sua capacidade intelectual ao ponto de deixar de se reconhecer a si mesmo, enfim, de perder a sua identidade, contribuindo para uma espiral emotiva e autómata que nada tem a ver com o objectivo iniciático.
Há comportamentos que só por si o individuo jamais assumirá devido a razões de ordem inibitória e preconceituosa, mas quando integrado no colectivo, esses poderão extravasar para áreas bastante perigosas, não só por razões de ordem psíquica como pelo conflito entre energias e ondas cerebrais, alheando o grupo dos valores e princípios morais e sociais, ao ponto de numa hipnose colectiva de ordem espontânea os poder reduzir ao puro reptilianismo e consequentemente, perante uma sucessão de estímulos, conduzindo a comportamentos puramente tribais tanto mais vincados quanto menor a consolidação de valores, desvanecendo-se logo que grupo se desfaz, e nesta geração tecnológica, um dos expoentes máximos do primitivismo digital.
Estamos perante um paradoxo da partilha social onde se vêm posto em causa os valores da liberdade, da igualdade, da dignidade, da integridade física e dos mais elementares direitos humanos ode no êxtase da espiral se transvasam todas as hierarquias sociais ao extremo de nem se respeitarem os docentes?!
Não havendo elemento capacitado de liderança positivista inserida no bom senso social, estes momentos poderão redundar em terríveis consequências e são precisamente estas trupes de escroques sadomasoquistas desprovidos de quaisquer valores, comandados por valentes Dux que depois de acontecerem as tragédias e chamados à responsabilidade, não passam de ratos assustados, sob amnésia total, que têm vindo a contribuir fortemente para a erradicação das praxes académicas!
No contexto das praxes académicas podemos concluir sem grande margem de erro que tudo é entregue "ao Deus dará" e enquanto estes comportamentos não forem sanados, enquanto nos lembramos dos seis jovens que só numa noite perderam a vida na praia do Meco, enquanto nos lembrarmos de uma vítima que seja, jamais qualquer género de praxe terá razão de ser!
Assim se vão formando as novas gerações, excepto aqueles que por razões fúteis vão tombando pelo caminho...
Estará cá o Cidadão errado nesta breve reflexão? 
Para mais opinião viaje até TRETAPRAXIS.